http://www.pedro.jmrezende.com.br/sd.htm > Virus e malware: WGA

Diálogo sobre WGA

Com o acadêmico do Direito Henrique Fontes,

Prof. Pedro Antonio Dourado de Rezende
Ciência da Computação - Universidade de Brasília
Agosto de 2007


Em agosto de 2007 Henrique Fontes e o autor travaram o seguinte diálogo sobre o tema.

 
1. Estou elaborando uma monografia para o curso de Direito, cujo tema é em relação ao código de defesa do consumidor e os métodos utilizados pelas empresas de softwares para "fiscalizarem" nossos computadores, como o WGA, a licitude ou ilicitude destes atos. Li sua matéria no site do JusNavigandi sobre as dúvidas com o Windows WGA, gostaria de saber se você tem mais informações sobre o assunto.

Primeiramente, gostaria de cumprimentá-lo pela escolha do tema da sua monografia. Importante mas largamente desprezado.


2. Se a Microsoft ainda está instalando este software nos computadores com Windows XP?

Sim, a empresa segue instalando o WGA nos computadores com Windows XP.

De novidade após aquela publicação no JusNavegandi, depois ela mesma publicou, em seu portal de notas técnicas, instruções sobre como desinstalar manualmente o WGA do XP, o que lhe permite refutar o que diz a respeito na própria licença do WGA. Há notícias de que teria também modificado a licença, ofuscando alguns abusos gritantes da versão comentada, e que teria reprogramado a frequência com que o WGA se conecta para enviar dados da máquina do usuário.

Entretanto ela segue, nas atualizações, tentando instalar o WGA onde não esteja, e não permitindo atualizações importantes sem a presença dele instalado. Não só aquelas atualizações que classifica como "de segurança", mas também de funcionalidade, como por exemplo o navegador IE, para a versão 7.0.


3. Se o problema foi resolvido ou disfarçado?

Não sei a qual problema se refere, pois existem vários relacionados ao WGA. De qualquer forma, como já comentado, alguns abusos na licença foram disfarçados, a frenética espionagem diária foi defasada (ao que parece para quizenal) mas ampliada no Vista (em escopo e meios).

**-[Atualização em 29/10/2007]
Para confirmar, basta ver como o relatório da Microsoft ao SEC (Security & Exchange Comission, órgão regulador dos negócios em bolsa com ações de empresas de capital aberto nos EUA), referente ao tremestre encerrado em 30/09/2007, contradiz diretamente o que diz a liença do WGA:

"Improper disclosure of personal data could result in liability and harm our reputation. We store and process significant amounts of personally identifiable information. It is possible that our security controls over personal data, our training of employees and vendors on data security, and other practices we follow may not prevent the improper disclosure of personally identifiable information. Such disclosure could harm our reputation and subject us to liability under laws that protect personal data, resulting in increased costs or loss of revenue. Our software products also enable our customers to store and process personal data. Perceptions that our products do not adequately protect the privacy of personal information could inhibit sales of our products"
[fim da atualização 29/10/2007]

Quanto aos problemas, outros surgiram ou se compuseram, como agravantes. O mais recente, uma pane -- a segunda em 11 meses -- nos servidoes responsáveis pelo registro de licenças, que passaram a marcar clientes legítimos como piratas, durante mais de 19 horas.

Dentes os mais graves, em minha opinião, além dos falsos negativos, o problema dos bloqueios em missão crítica por falsos positivos na identificação de cópia pirata, ou por identificação de origem insuspeita [1, 2, 3, 4], e o problema da exigência do ActiveScripting. Sem falar nas atualizações sorrateiras, que podem estar ocorrendo mesmo com o recurso desabilitado pelo usuário.

Para automatizar a atualização de segurança de instalações legítimas, via WGA, o usuário do Windows é obrigado a habilitar o recurso "Active Scripting" (VBScript) em modo de execução automática, configuração responsável pelas mais populares e massivas formas de invasão a essa plataforma.

A grande maioria dos ataques ainda é feita com programas escritos em VBScript, que exploram, em mensagens de correio eletrônico ou páginas web, falhas já conhecidas do sistema Windows ou em aplicativos a ele "integrados". A adaptação da linguagem Visual Basic para conteúdo ativo na internet, como VBScript, foi uma decisão que deu margem a que conteúdos maliciosos externos controlem processos internos dessa plataforma, mas que não foi revista no Vista.


4. Qual método está sendo utilizado com o Windows Vista?

O Vista tem sua arquitetura baseada na desesperada filosofia DRM, que supõe serem os direitos de fornecedores de conteúdo digital sobre seu computador mais importantes que os seus [1, 2]. Em consequência o WGA, que é uma ferramenta DRM do fornecedor do Vista, faz parte de sua estrutura interna e não pode ser removido, como no caso do XP.

Sendo assim, era de se esperar que o escopo e os meios de espionagem controlados pelo WGA se expandissem no Vista, em relação ao XP. Sua introdução da forma que se deu no XP, servindo para acostumar consumidores, já rendidos à marca, com a idéia de que serão, cada vez mais, meros inquilinos de seus próprios computadores. A análise mais abrangente desta expansão, de que tomei conhecimento, foi publicada no portal softpedia.

**-[Atualização em 10/09/2009]
Depois tomei conhecimento de mas análises interessantes, uma pesquisando as conexões da fornecedora com a National Security Agency dos EUA, e outra onde o pesquisador afirma que a porta de fundo WMF foi propositalmente introduzida pela fornecedora.
[fim da atualização 10/09/2009]

Doutro lado, entre os problemas que se compõem ou se agravam, o Vista restringe a capacidade da indústria independente de softwares de segurança.  Com o Vista, para proteger-se o usuário fica a mercê da mesma empresa cujas deficiências em seus produtos impulsionaram essa indústria no passado, indústria agora cooptada a coadjuvante na nova plataforma. E sem concorrência, a relação preço/performance nas soluções de segurança disponíveis tende a deteriorar-se. Como também as possibilidades de defesa do usuário contra abusos de poder do fornecedor, até mesmo sob a perspectiva dos acionistas da própria Microsoft



* -Em troca de emails em 30-08-2007, o autor pediu e obteve autorização para publicação deste debate neste site nesses termos.

**-Atualizado em 29-10-2007, 10-09-2009