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Altcoins ameaçam o Bitcoin?

Prof. Pedro Antonio Dourado de Rezende
Departamento de Ciência da Computação
Universidade de Brasília
26 de junho de 2017


Há dois dias a BBC Brasil publicou uma matéria explicando o que é o token ether, quanto valorizou desde que foi lançado, e descreve isso como ameaça ao Bitcoin. Neste meu artigo, busco chamar a atenção do leitor para o que pode significar a "ameaça" citada na matéria da BBC.

O sentido adequado dessa ameaça pode ser entendido, metaforicamente, como de ultrapassagem nessa fase atual da corrida das criptomoedas por capitalização, correspondente ao posicionamento financeiro de demanda para cada uma delas como possível substituta de moedas fiat nacionais (as quais hoje seguem em etapas finais do processo natural de extinção hiperinflacionária), seja na função de meio de troca (moeda corrente) e/ou na de reserva de valor (como investimento ou dinheiro).

O bitcoin largou na frente em 2009 e lá de trás a moeda da rede ethereum após 2013 acelerou. Tendo já sofrido uma "derrapagem" na "poça de óleo" DAO, seguida de "pit stop" para "consertar avarias", ela está novamente galgando posições rapidamente, mas isso não significa que terá condições de alcançar e manter a ponta até o fim dessa corrida. O fator mais determinante para sucesso nessa corrida, que é de transição histórica das tecnologias monetárias, e que ainda está por sofrer as turbulências da guerra econômica recrudescente com a vindoura extinção da dominância das moedas fiat hoje dominantes, é o equivalente a "combustível no tanque": o lastro de cada uma, que se traduz por capacidade computacional agregada para manter seu blockchain.

Se entendermos, como ensina Bix Weir, blockchains como "motores da verdade virtualizável" (no caso de uma criptomoeda, da sua verdade contábil, capaz de induzir confiança em suas funções monetárias), tal capacidade corresponde à capacidade computacional (aplicável ao calculo de hashes criptográficos) conjunta dos nós ativos da respectiva rede, orquestrada pela estabilidade intrínseca de seu protocolo, que o sustentam. A robustez dessa capacidade distribuída e assim estabilizada, especialmente para resistir a ataques de interesses centralizadores (explícitos ou não) executáveis pela captura de 51% desses nós por exemplo, é o que pode dar sobrevida a uma criptomoeda até o fim dessa corrida.

Considerando tal medida para comparações, a rede bitcoin continua ainda sem rivais, em termos de "fôlego virtual" para sobreviver como moeda descentralizada. Tanto no quesito estabilidade do protocolo, como se vê no atual impasse entre distintas estratégias que se posicionam para enfrentar seus "problemas de crescimento", como no quesito capacidade computacional distribuída, que segue crescendo e, já na marca dos 5 hexahashes por segundo, nisso imbatível entre as criptorivais. Não entender ou não querer entender isso tudo, pode induzir no observador uma ilusão de óptica, como se tem quando o carro ao lado no estacionamento começa a se deslocar, e imaginamos que foi o nosso que "perdeu o freio", até prestarmos atenção às referências de fundo.

Essa ilusão de óptica financeira se manifesta em imaginação de que tal corrida (por capitalização das criptomoedas) é apenas outro esquema ponzi, onde o valor dessas criptomoedas é que é causa fictícia e um dia virará pó, quando a causa desse movimento por capitalização apenas exibe a possível viabilidade de criptomoedas como novos arranjos tecnológicos financeiros, os quais sinalizam o fim da linha evolutiva para o esquema ponzi das moedas fiat com lastro apenas em controle centralizado de meios de pagamento e em crédito aceitável nesses meios "oficiais".

O resto é psyop na guerra por controle de corações e mentes.



Autor

Pedro Antonio Dourado de Rezende é professor concursado no Departamento de Ciência da Com­putação da Universidade de Brasília, Advanced to Candidacy a PhD pela Universidade da Cali­fornia em Berkeley. Membro do Conselho do Ins­tituto Brasileiro de Política e Direito de In­formática, ex-membro do Conselho da Fundação Softwa­re Li­vre América Latina, e do Comitê Gestor da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-BR). http://www.­pedro.jmrezende.com.br/sd.php

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Pedro A D Rezende et. al., 2017:  Este debate é publicado no portal do editor-coautor, após a concordância dos demais coautores, sob a licença disponível em http://creativecommons.org/licenses/by-nd/2.5/br/