Cartago deve ser destruída!

[ou, Não se Põe Vinho Novo em Odre Velho]

David Sant para o blog The Vineyard of the Saker
Original publicado em http://thesaker.is/carthage-must-be-destroyed
16 de Dezembro de 2022

Traduzido por Pedro A. D. Rezende
18 de Dezembro de 2022
Complementos da tradução entre [colchetes]



Durante sua ascensão para dominação mundial, a cidade de Roma teve uma grande concorrente, que era igual a ela em praticamente todos os aspectos. Essa cidade era Cartago, localizada a 370 milhas de Roma, na costa sul do Mar Mediterrâneo.

Cartago vinha fundando colônias ao redor do Mediterrâneo e do Atlântico por mais de um século, antes mesmo de Roma ter sido fundada. À medida que Roma crescia em poder, essas duas cidades mediterrâneas travaram duas guerras pelo controle da ilha da Sicília, chamadas Guerras Púnicas. Apesar das admiráveis atuações do comandante cartaginês Aníbal, que conseguiu invadir a Itália duas vezes, e infligir terrível derrota aos romanos na batalha de Canas, Cartago ainda acabou perdendo as duas guerras.

No final da segunda Guerra Púnica, em 201 A.C., Cartago foi conquistada por Roma e colocada sob um status administrativo especial, que a impedia de enviar sua marinha ou expedição militar ultramarina a qualquer lugar sem a prévia permissão do Senado romano. Cartago foi um dos três poderes que conseguiram ameaçar diretamente Roma durante os tempos de República, sendo os outros os gauleses, que saquearam Roma em 390 A.C., e os gregos macedônios, que foram derrotados em 197 A.C.

A atitude de Roma em relação a Cartago era muito semelhante à atual atitude anglo-americana em relação à nação tida por maior rival. Aos olhos dos romanos, o maior “pecado” de Cartago era o de se igualar em poder e influência a Roma. E por esse pecado, Cartago tinha que ser destruída.

Catão, o Velho, era um soldado romano que mais tarde se tornou senador e orador famoso. Ele ficou famoso por seus muitos discursos no Senado, mesmo após sua aposentadoria. Por um período de quarenta anos, Catão sempre terminava seus discursos, qualquer que fosse o assunto, com a declaração seguinte: “E, além disso, considero que Cartago deve ser destruída!”

Catão repetia sempre essa exigência apesar de Cartago ter se tornado um estado cliente de Roma, vinculado a ela por um tratado de paz desde 201 A.C. Por cinquenta anos, após perder a Segunda Guerra Púnica, Cartago se submeteu aos termos desse tratado. No entanto, após a morte do velho Catão, em 149 A.C., uma certa facção romana permitiu deliberadamente que o reino da Numídia, outro estado cliente de Roma, saqueasse e conquistasse territórios cartagineses, violando o tratado de 201 A.C.

Isso colocou Cartago numa situação difícil, em que teria que se defender de predações de um outro estado cliente romano vizinho. Seus apelos ao Senado romano solicitando permissão para se defender foram ignorados. Cartago então agiu para defender seus interesses contra a Numídia sem tal permissão.

E quando Cartago assim agiu, sem permissão, o Senado romano imediatamente interpretou isso como violação do tratado de paz de 201 A.C. E autorizou a invasão e destruição de Cartago por tropas romanas. Isso não era diferente da atual “rules-based international order" (ordem internacional baseada em regras) de Washington, onde eles fazem lá as tais regras (para os outros), mas entendem que eles mesmos não têm que segui-las.

Apesar de terem entregue suas armas no início da campanha romana, Cartago tinha muralhas tão bem feitas que o cerco romano levou quase três anos para rompê-las. Finalmente, em 146 A.C., Cartago caiu pela última vez, e foi deliberadamente arrasada e queimada. Os romanos mataram toda a sua população, inclusive mulheres e crianças, exceto 50.000 homens que foram levados para Roma como escravos. De acordo com Políbio, a esposa do último comandante cartaginês se jogou com seus filhos no templo local em chamas, em vez de se render a Roma.


  Moscou como a nova Cartago

A dissolução da União Soviética em 1991 não foi o resultado de uma guerra perdida. Foi o resultado de políticas fracassadas para uma economia centralizada, exacerbado pela manipulação americana dos mercados de petróleo e uma dispendiosa guerra de guerrilha, apoiada pelos mesmos americanos no Afeganistão.

Depois da dissolução, os Estados Unidos avançaram com seus consultores econômicos e aplicaram uma “terapia de choque”, aproveitando a oportunidade para reestruturar uma Rússia confusa e crédula, inclusive redigindo sua nova constituição. Para a Rússia, o colapso da União Soviética teve muitas semelhanças com a derrota de Cartago na Segunda Guerra Púnica.

Apesar de fazer as pazes com seu antigo adversário da guerra fria e honrar seus tratados, a Rússia descobriu que nunca poderia ser aceita como parceira, em igualdade de condições, pela ordem mundial ditada pelo ocidente. E isso ocorre pela mesma razão que Cartago nunca poderia ser tolerada por Roma; A Rússia foi, e volta a ser, igualável ao Império Anglo-Americano em poderio.

Desde que Vladimir Putin se tornou presidente da Rússia, um coro do Ocidente surgiu e fica cada vez mais estridente, apelando para que Putin seja removido. Embora os coristas ainda não possam dizer isso publicamente, o que eles realmente querem dizer é “A Rússia deve ser destruída!”

Se a Rússia tivesse continuado a política de submissão ao controle ocidental iniciada por Boris Yeltsin, podemos ter certeza de que Moscou já teria eventualmente encontrado o mesmo destino de Cartago, pelas mãos do Império Anglo-Americano. Mas a eleição de Vladimir Putin para presidir a Rússia atrapalhou esses planos. Sob seu governo, a Rússia vem gradativamente reafirmando sua antiga liderança e poder, contra as maquinações do Império Anglo-Americano.


  Ataques de bandeira falsa como um meio para um fim

Embora a princípio Putin tenha feito um esforço genuíno para firmar parcerias com o Ocidente, a partir de 2011 ficou claro que o Ocidente nunca aceitaria a Rússia como parceira ou igual. O Ocidente desfrutou de duas décadas mandando em todo o mundo, e aprendeu a gostar de dar ordens em vez de negociar. Pode-se dizer que nesse tempo o Ocidente esqueceu a arte da diplomacia.

Depois de assistir com horror as destruições da Iugoslávia, da Líbia e na Síria lideradas pela OTAN, o Kremlin começou a se afirmar, a partir de 2013, em assuntos de política externa que afetavam diretamente os interesses de segurança do país. Antes, entre 2011 e 2013, a administração Obama esteve muito ocupada planejando a derrubada do regime de Assad na Síria.

Também nesse período houve dois grandes vazamentos de dados, por hackers que invadiram empresas ativas em serviços de inteligência, cujos documentos lançaram uma luz inesperada sobre o que vinha acontecendo nos bastidores. Esses vazamentos ocorreram em 2011 na empresa Stratfor, e em janeiro de 2013 numa empresa de segurança privada britânica (isto é, de mercenários), que não deve ser aqui identificada.

Devo observar que essa empresa de segurança privada (para abreviar, PSC) admitiu que foi hackeada, mas alegou que dois dos e-mails mais contundentes, entre os vários gigabytes vazados, teriam sido “forjados”. Um desses e-mails, conforme relatado pela Oriental Review, era supostamente do diretor de desenvolvimento e negócios para o fundador da empresa, e dizia o seguinte:

A história original e seu contexto podem ser encontrados em matéria publicada no The Oriental Review, em https://orientalreview.org/2013/01/31/britamgate-staging-false-flag-attacks-in-syria

Apesar desse vazamento incluir arquivos pessoais contendo cópias de 58 passaportes ucranianos verdadeiros de funcionários do referido PSC, os “verificadores de fatos” na época examinaram os cabeçalhos dos e-mails e notaram que o e-mail em questão tinha um carimbo de tempo com horário – 23:57 h – igual ao de outro e-mail, este de divulgação, enviado em data diferente mas também às 23:57.

Embora isso pudesse ser bem explicado por um servidor de e-mail ou configuração de laptop que enviava e-mails todos os dias no mesmo horário [ao final do dia], tal “coincidência” foi tida como “prova” de que o e-mail era "uma farsa", uma trapaça por "forja" em meio ao vazamento, e todo o caso foi rapidamente desprezado e (quase) esquecido.

O referido PSC processou o [jornal britânico] Daily Mail por difamação, por ter publicado esse e-mail “obviamente falso” como se fora autêntico, e acabou recebendo indenização e uma retratação parcial em janeiro de 2022.

O e-mail supostamente forjado estava entre várias outras revelações de tramóias, tais como a de que a inteligência dos EUA e da Grã-Bretanha planejavam divulgar um vídeo que mostrasse soldados falando em russo e operadorando depósitos de armas químicas da Síria. Considero a mencionada “farsa” uma das mais surpreendentes coincidências das últimas duas décadas.

Apenas 3 meses depois desse vazamento, a mídia corporativa noticiou alegações de ataque químico em Khan al-Assal, perto de Aleppo, seguido de outro em Ghouta, cinco meses depois. Ambos tidos pelo Ocidente como ataques reais, e atribuídos ao regime de Assad, na escalada retórica preparatória para uma eventual invasão norte-americana na Síria.

É simplesmente incrível que algum hacker desconhecido tenha conseguido forjar um e-mail onde se discute os detalhes de um evento que ainda iria acontecer. Mas eis que a verdade costuma ser mais estranha que a ficção.

Acredito que o referido PSC não teve, de fato, nada a ver com nenhum desses supostos ataques químicos, porque, depois de sua incompetência demonstrada ao permitir que toda sua documentação sobre operações no Oriente Médio vazassem na Internet, duvido que a empresa ticesse sido escolhida para executar a oferta aventada naquele e-mail.

Esse e-mail alegadamente forjado nos mostra uma ideia do que estava realmente acontecendo na Síria, com a inteligência dos EUA e da Grã-Bretanha terceirizando projetos para grupos mercenários como a Blackwater e outras “empresas de segurança privada”.

No entanto, essa farra preparatória para invasão foi interrompida em setembro de 2013, quando o presidente Putin neutralizou completamente o casus belli anglo-americano contra a Síria, propondo ajudar o governo Sírio a destruir seus estoques de armas químicas.

Essa operação foi executada com sucesso e verificada pela OPCW (Organização para a Proibição de Armas Químicas) como concluída em junho de 2014. Assim, os estoques de [insumos que poderiam compor] armas químicas da Síria foram todos removidos antes que o plano americano de bandeira falsa pudesse ser executado de forma convincente. No pôquer, isso é conhecido como “chamar o blefe”.


  [A lição das armas químicas na Síria]

Qualquer um que realmente acreditasse na propaganda ocidental sobre armas químicas poderia esperar que o presidente Putin recebesse algum tipo de prêmio internacional por trazer a Síria para a Convenção para Proibição de Armas Químicas, evitando outra grande guerra no Oriente Médio.

No entanto, em vez de ficarem satisfeitos com a destruição das armas químicas da Síria, os Atlantistas ficaram furiosos. Pois esse foi o primeiro importante "movimento de xadrez" do presidente Putin para bloquear planos atlantistas no cenário mundial. O Atlantismo então realinhou seus planos, e passou a se concentrar na revolução colorida Euromaidan na Ucrânia, a partir de novembro de 2013.

Entretanto, a saga das armas químicas na Síria não parou. O país vem sofrendo tentativas reais de ataque com armas químicas desde 2012, culminando numa grande operação em Idlib em 4 de abril de 2017. E o regime de Assad continuou a ser acusado de atacar seu próprio povo com armas químicas em 2015, 2016, 2017 e até em 2022.

O ataque em Idlib foi usado pelo presidente Trump como justifiva para atacar a Síria com mísseis de cruzeiro dois dias depois, antes que qualquer fato, especialmente sobre autoria, pudesse ser apurado sobre aquele ataque em Idlib.

Desde 2017 a Rússia vem repetidamente alertando que o grupo conhecido como "Capacetes Brancos" planeja ataques químicos de bandeira falsa a serem atribuídos ao regime de Assad, atividade que tem continuado até o presente ano.

A lição mais importante a ser aprendida com essa saga das armas químicas na Síria é que as agências de inteligência atlantistas têm um controle tão completo sobre os principais meios de comunicação mundias que não mais temem a exposição de seus planos de ataque de bandeira falsa. Tanto é que, se você quiser antever seus planos, basta ouvir o que eles dizem [à guisa de “previsões da inteligência”. Por exemplo:]

Em 20 de agosto de 2012, alguns meses antes de qualquer um dos ataques químicos de bandeira falsa ocorrerem na Síria, o presidente Obama fez a seguinte advertência:

Obama começou a alertar a Síria de que usar ou mesmo mover armas químicas era para ele uma "linha vermelha", pouco antes do início das tentativas americanas de bandeira falsa. Assim, podemos ver que o regime dos EUA irá telegrafar seus planos primeiro nomeando um casus belli e depois trabalhando secretamente para criar uma falsa aparência de violação desse casus belli pela escolhida vítima.

Mesmo quando os planos são expostos com antecedência, eles ainda assim serão executados. A mídia corporativa fingirá que não houve aviso prévio, e os "verificadores de fatos" alegarão que um eventual aviso prévio seria parte de uma manobra de despiste daquele sendo (falsamente) acusado de autoria da agressão.


  A Rússia deve ser destruída!

Isso nos leva a um provável ponto culminante na guerra ocidental contra a Rússia. Em setembro de 2022, funcionários de Biden começaram de repente a tagarelar advertindo que a Rússia não deve usar armas nucleares táticas na Ucrânia. Este refrão foi várias vezes repetido para a mídia corporativa, por altos funcionários, incluindo o próprio Presidente, o Secretário de Estado e um Conselheiro de Segurança Nacional, bem como vários oficiais militares aposentados.

Qualquer pessoa com um pingo de bom senso pode ver que usar armas nucleares na Ucrânia iria contra todos os interesses que a Rússia poderia ter ali, além de quebrar as regras da sua doutrina nuclear. Ainda, boa parte dos cidadãos russos tem parentes na Ucrânia, o que faria de tal ação um suicídio político. A Rússia nunca ameaçou usar tais armas na Ucrânia. Então, por que insistir nessas advertências?

Essas ridículas advertências norte-americanas contra uso de armas nucleares na Ucrânia mostram ao observador atento exatamente o que o governo dos EUA pretende com isso. Eles obviamente pretendem fazer explodir lá, por meio de seus terceirizados ou vassalos, uma bomba suja ou mesmo uma arma nuclear tática para acusar a Rússia de ter feito isso.

Já podemos ver esse plano em andamento. Em outubro de 2022, o Kremlin alertou [, primeiro em privado e depois publicamente, a liderança de] vários países importantes sobre o plano da Ucrânia para construir e detonar uma bomba suja e culpar a Rússia. O secretário de Defesa dos EUA, general Austin, imediatamente distorceu a mensagem para sugerir que a Rússia está fabricando tal acusação para justificar sua própria intenção de usar armas nucleares na Ucrânia. E então o assunto pareceu ter morrido como que por mágica.

Infelizmente é ingenuidade pensar que tais alertas do ministro da Defesa russo (general Sergei Shoigu) evitariam qualquer coisa. No passado, expor antecipadamente o planejamento de ataques químicos de bandeira falsa não impediu sua eventual execução. Sabemos pelo ministro de Defesa russo que um evento radioativo ou nuclear de bandeira falsa foi definitivamente planejado para a Ucrânia.

Desde que a Rússia anunciou isso, é possível que os atlantistas tenham revisado esse plano, optando por uma arma nuclear tática real [em vez de uma bomba suja], pois supõe-se que a Ucrânia não possui armas nucleares reais e seria assim mais complicado para a Rússia negar (uma falsa) autoria ou expor a verdadeira lógica do ataque. Provavelmente esse plano aguardada um momento em que a Rússia pareça estar mais próxima de uma vitória definitiva na Ucrânia.

Num contexto mais amplo, a agência britânica MI6 já executou uma série de envenenamentos de bandeira falsa atribuidos à Rússia, começando com Litvinenko em 2006, seguido pelos Skripal em 2018 e, mais recentemente, o de Nalvany, este com participação da Alemanha. O objetivo dessas campanhas teatrais com bandeira falsa sempre foi o de reduzir a influência da Rússia na comunidade internacional e tentar isolá-la como um “Estado vilão”.

Agora, voltando ao e-mail “forjado” do PSC referido acima, vemos que o plano de gravar um vídeo com falantes do idioma russo manipulando armas químicas que eventualmente seriam usadas contra civis inocentes na Síria se encaixa perfeitamente na narrativa da propaganda britânica de que “a Rússia envenena pessoas porque ela é [como] uma serpente venenosa!”

A derrubada do vôo MH-17 [na Ucrânia em 2014] também tem as mesmas características de um ataque de bandeira falsa, porém, com um propósito um tanto mais tático, de tentar criar uma histeria internacional com intensidade suficiente para transformar a vitória das milícias de Donbass em uma derrota internacional para a Rússia, através de sanções.

De fato, a derrubada do MH-17 conseguiu energizar a Europa para aplicar uma primeira rodada de sanções contra a Rússia, e ainda mais: gerou histeria suficiente para que a Rússia não tenha mais chance de defender suas ações, interrogar testemunhas ou trazer suas próprias testemunhas a respeito de acusações contra ela. A Rússia e seus cidadãos vem sendo rotineiramente acusados no Ocidente ​​de atrocidades e sumariamente punidos com confisco de bens, sem deireito a recurso nos organismos internacionais que foram criados para julgar tais disputas.

E agora, com a Guerra na Ucrânia deixando de ser tendência no Twitter, com europeus congelando e prestes a se insurgir contra seus líderes, e com a presumida ofensiva de inverno da Rússia prestes a infligir perdas importantes à Ucrânia e seus aliados na OTAN, os atlantistas precisam com urgência de um choque ainda maior, para induzir a ONU e a União Europeia a cumprirem novas demandas.

[Demandas terríveis:] Como no caso do MH-17, os satanistas que lideram o Império das Mentiras precisam de um grande sacrifício em vidas humanas para gerar choque e indignação coletivos em escala suficiente para galgarem seu próximo grande golpe de política externa [, para consolidar seu almejado governo tirânico global].

O leitor pode aqui reconhecer o mesmo roteiro inaugurado em 2012 com aquelas advertências à Síria, para não usarem armas químicas, seguidas por sucessivos ataques de bandeira falsa. Depois de ouvir as advertências dos EUA à Rússia, para não usarem armas nucleares na Ucrânia, não deveríamos ficar surpresos ao saber (pelo Ministério da Defesa russo) que o regime de Zelensky estava planejando construir e detonar uma bomba suja na Ucrania para culpar a Rússia, como se esta tivesse ali lançado uma arma nuclear tática.

Como as advertências americanas, seguidas pela exposição dessa trama do regime de Zelensky, expressam o mesmo padrão visto na Síria, acredito que alguma versão dessa conspiração nuclear será eventualmente executada com o apoio das agências de inteligência atlantistas.


  Para qual finalidade?

A posição da Rússia como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU com poder de veto tem sido um espinho na pata da besta atlantista desde a Guerra Fria. A disposição da Rússia em usar suas forças armadas para defender aliados na Síria, Ucrânia e Armênia apresenta um fator de risco incontrolável para a hegemonia anglo-americana, que não pode tolerar isso.

A Rússia usou seu veto no Conselho de Segurança várias vezes para bloquear o belicismo anglo-americano. Se a Rússia não pode ser destruída literalmente, então o Eixo Atlantista acha que deve, no minimo, destruir sua reputação a ponto de conseguir a revogação do seu assento no Conselho de Segurança.

Se o Eixo Atlantista não se arrisca a atacar militarmente a Rússia, então a coisa mais próxima que podem tentar é criar uma provocação que resulte em comoção suficiente para justificar sua expulsão do Conselho de Segurança. Eles estão desesperados para eliminar a influência e liderança da Rússia no resto do mundo, pois Moscou vem bloqueando seus planos imperiais na Síria, Ucrânia e Armênia, e potencialmente na Ásia, América Latina e África.

O propósito evidente de um ataque de bandeira falsa envolvendo detonação nuclear, real ou forjada, seria o de gerar horror e repulsa internacionais suficientes para levar à remoção da Rússia do Conselho de Segurança, ou da própria ONU por completo. Para isso, teria que ser algo comparável ao ataque de 11 de setembro contra as torres gêmeas em Nova Iorque.

Quando uma tal bomba for finalmente detonada, esteja certo de que a papelada para expulsar a Rússia será apresentada à Assembleia Geral da ONU antes mesmo que as cinzas cheguem ao solo. Não faz sentido entender um tal evento como tentativa de impedir avanços de um dos lados na Ucrânia. A bomba aí pode ser tática, mas seu propósito será estratégico: excomungar a Rússia da ONU e demais organismos internacionais dos quais seja membro.

A campanha de longo prazo dos serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido para incriminar a Rússia em eventos envolvendo uso de armas de destruição em massa segue o paralelo sombrio do tratamento de Roma a Cartago. Catão e sua facção exigiam a destruição de Cartago não por ela estar envolvida em qualquer conspiração contra Roma, mas porque Cartago se assemelhava a Roma em riqueza, cultura e poderio militar.


  [A mentalidade imperialista]

Cartago era um adversário em potencial que podia bloquear o caminho de Roma rumo a se tornar Império. Catão fez seus discursos por décadas até morrer, encerrando cada um deles com o apelo para destruição de Cartago. Isso a princípio até poderia ter sido considerado uma piada [ou maluquice], mas, ao final, por meio da repetição, Catão conseguiu preparar as mentes do Senado romano para realizá-la.

Roma não tolerava competição e por isso não reconhecia Cartago como igual. Para a mente romana, a mera existência de Cartago exigia sua destruição. E é exatamente assim que os think tanks em Washington e Londres veem a Rússia hoje. “A Rússia deve ser destruída!”

E assim como Roma usou um tratado de paz com Cartago para impedi-la de se defender, enquanto pressionava outro estado cliente – a Numídia – a guerrear contra Cartago, tanto Petro Poroshenko quanto Angela Merkel agora admitem publicamente que assinaram os Tratados de Minsk ​​apenas para dar tempo a Kiev se preparar para uma guerra contra a Rússia.

Catão, o Velho, morreu de velhice em 149 A.C., aos 85 anos. Um ano depois, a liderança romana também induziu um estado cliente (Numídia) a gerar um falso pretexto para fazerem guerra contra um suposto rival (Cartago), a quem ela não tolerava. E após um prolongado cerco, os romanos queimaram essa cidade-estado e garantiram que ela não fosse reconstruída por gerações.

A destruição de Cartago por Roma foi totalmente irracional. O equivalente em 2020 a bilhões de dólares em patrimônio virou ruínas. Uma civilização que não queria guerra com Roma foi assim aniquilada. Com isso o Império Romano acabou ficando mais pobre, e não mais rico. Essa destruição deliberada foi inteiramente motivada pelo ódio e pela inveja, ambos sentimentos irracionais.

Se a Rússia algum dia capitular para o Eixo Atlantista, ela encontrará o mesmo destino. “A Rússia deve ser destruída” é o mantra que permeia todas as ações, as tramas e estratégias Atlantistas desde que Putin se firmou na liderança da Rússia. E não devemos dúvidar que Washington estará disposto a usar armas nucleares para atingir esse seu objetivo, seja realmente ou por farsa.

No curto prazo, devemos esperar a farsa: um ataque nuclear ou radioativo de bandeira falsa na Ucrânia. Se a Rússia conseguir um grande avanço no próximo ano, uma detonação nuclear real será mais provavel, seguida por condenações histéricas e exigências alucinadas para que a Rússia seja imediatamente expulsa das Nações Unidas. [Assim como no mantra de Catão aos romanos, os preparativos para isso já começaram]

A pergunta para a qual não tenho resposta é: como a Rússia pode derrotar essa estratégia?


  O Fim da Destruição Mutuamente Assegurada

A doutrina da Destruição Mutuamente Assegurada [conhecida pela sigla MAD] se baseia na suposição de que dois atores racionais, entendendo que uma determinada ação destruirá a ambos, evitarão essa ação a qualquer custo. Essa doutrina foi o eixo da política externa das duas superpotências durante a Guerra Fria.

[Mas sua hipótese é frágil.] O problema é que a maioria dos seres humanos só é racional em determinadas situações. E uma pequena porcentagem deles pode atingir um estado de completa irracionalidade na maioria das situações.

Além disso, os seres humanos têm uma estranha tendência de, em raras ocasiões, enlouquecerem coletivamente, numa espécie de efeito manada. Parecidos nisso com os lemingues, quando em manada passam de repente a seguir uns aos outros numa desabalada carreira rumo a um penhasco junto ao mar [, onde morrem todos afogados]. A Alemanha nazista na década de 1930 vem à mente, como exemplo.

Embora a Rússia esteja tentando se proteger da corrosiva influência da sodomia imposta como "valor ocidental" [ou à guisa de progressismo], o Ocidente a vem abraçando expansivamente. Não apenas como opção pessoal válida, [junto com variantes sinistras,] mas também como ideologia identitária absolutista ou religião estatal. [Como uma seita macabra obsecada em incitar suas condutas em crianças cada vez mais tenras.]

Isso é o que o presidente Putin quis dizer [num discurso recente] quando acusou o Ocidente de ter se tornado satânico. A sodomia assim abraçada não é mera escolha pessoal. É uma escolha suicida tanto para a espécie quanto para a sociedade humanas. Sodomitas coerentes não têm filhos, e portanto devem recrutar filhos de pessoas normais para crescer em número [e como classe social].

No final, uma civilização que faz da sodomia seu estilo preferencial de vida entrará em colapso demográfico, moral e eventualmente econômico. O Ocidente vem sendo enfeitiçado por essa seita que cultua assim a morte, atualmente liderada pelo Fórum Econômico Mundial. Sua meta irracional de desindustrialização e despovoamento, em nome de um ambientalismo [forjado sobre hipóteses intestáveis e vagas promessas] da tecnocracia, só pode ser entendida como insana.

Em última análise, tanto a sodomia quanto esse ambientalismo malthusiano são rejeições ao nosso Criador e ao Seu mandato para sermos frutíferos, multiplicando e exercendo domínio sobre a Terra e suas criaturas vivas. [São rejeições à missão que Dele recebemos, d]e transformarmos a Terra de deserto e terreno baldio em jardim cuidado.

Não podemos contar com adeptos dessa seita macabra para exercerem liderança racional sob a doutrina MAD. Eles podem entender que uma grande guerra nuclear seria um atalho [ou meio] para alcançarem seus objetivos de desindustrialização e despovoamento. Claro que eles contam com seus abrigos subterrâneos na Suíça [e no Colorado] para sobreviver, mas sua crença de que depois se tornarão a nova elite de um mundo mais verde controlado por tecnocratas, é também irracional [, e delirante].

Os membros do culto Heaven's Gate também acreditavam que, se cometessem suicídio coletivo, eles ascenderiam a um estado melhor e mais elevado de existência. Até onde se pode saber, eles estavam redondamente enganados. Mas isso não os impediu de cometerem suicídio coletivo.


  [Vinho Novo em Odre Velho]

Jesus disse que não se deve por vinho novo em odres velhos. A razão é que o couro de um odre se estica sob a pressão da fermentação. Um odre velho já perdeu sua elasticidade, e não poderá conter a pressão de uma segunda carga de vinho em fermentação, sem o risco de acabar estourando.

A doutrina MAD (Destruição Mútua Assegurada) já conteve uma corrida armamentista nuclear durante a guerra fria. Nisso ela me parece com um velho odre do século XX. Talvez essa "doutrina-odre" não seja capaz de conter a pressão de fermentáveis mentes de “jovens líderes globais”, cujos corações estão sendo treinados nesta seita macabra pelo Fórum Econômico Mundial.

Em menos de um ano, temos visto lideranças ocidentais demonstrarem que já atingiram um estado de insanidade criminosa crônica:

Na história mundial, chegamos a esse ponto: líderes no Ocidente parecem estar planejando um ataque nuclear de bandeira falsa na Ucrânia para culpar a Rússia a fim de justificar sua próxima planejada grande mudança, seja lá qual for ela. A Rússia está bloqueando seu caminho. Esses líderes certamente ficaram loucos. Isso significa que a doutrina MAD não é mais proteção [ou estratégia] contra uma guerra nuclear total.

Quaisquer poderes que permaneçam sensatos neste mundo precisam levar isso em consideração, imediatamente. E começar a se preparar e planejar para sobreviver, inclusive de alguma forma tentando derrotar essa guerra nuclear total. Contra adversários diabolicamente insanos e suicidas que podem ver nela um meio útil para alcançar seus objetivos.

Se a Cartago de hoje espera que a revivida Roma dê seu próximo passo, confiando na boa fé das partes para tomar decisões racionais conforme o direito internacional, então é bem provável que, mais uma vez, Cartago venha a ser destruída.

Kyrie eleison de todos nós!

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  Debate no grupo "momento Brasil" (Telegram)

Gilson RCC
Diante desse texto comsaltoupartilhado, me ocorrem dois questionamentos que penso estar ligados ao contexto exposto.

  1. O enfrentamento à grande mídia - nos EUA por Donald Trump; no Brasil por Jair Bolsonaro - para desconstrução constantes de narrativas, com objetivo claro de descredibilizá-las perante o público, primeiramente local e num segundo momento, mundial, estaria de alguma maneira vinculada a esta luta contra aqueles dominadores globais que atentam contra a Rússia - Cartago dos dias atuais, segundo o texto?

    P.R.
    Sim, entendo que a luta de Trump e de Bolsonaro para desconstrução de narrativas "fabricadas como consenso" pela mídia corporativa é a mesma enfrentada por outros líderes soberanistas, contra a agenda dos dominadores globais.
    A diferença com relação à Rússia é que lá, o empoderamento da quinta coluna cooptada contra a liderança soberanista (com Putin) tem se mostrado bem mais difícil para os dominadores globais do que nos EUA e no Brasil. Talvez por ser ela a última trincheira do soberanismo nacional anti-globalista, por razões históricas e geopolíticas, ou mesmo espirituais (considerando o reaviamento do cristianismo ortodoxo lá, após a dissolução da União Soviética).

  2. Os rumores que de os países pertencentes ao BRICS estaria caminhando para uma grande aliança militar - se real - já seria um levante em oposição a OTAN/ONU Globalista, inclusive já com interesse de novas nações de ingressar ao grupo?

    P.R.
    Entendo que o alinhamento de interesses que constitui a potencial força política dos BRICS é antes de natureza econômico-financeira do que militar. Na possibilidade dos membros aderirem, além de novas formas de financiamento para o desenvolvimento, a nova(s) moeda(s) para o comércio entre si, com peso suficiente para constituir massa crítica como alternativa vantajosa ao dólar, que é hoje o principal instrumento de cooptação e controle do globalismo atlantista unipolar (e que hoje supera nessa função o poderio militar da OTAN).
    A grande aliança militar que vem se consolidando como oposição natural ao poderio militar da OTAN, mesmo que em arranjo geopolítico multipolar, envolve sim os dois principais agentes do BRICS (Russia e China), mas não todos (atuais ou potenciais membros futuros do BRICS: trata-se da Organização para Cooperação de Xangai, conhecia pela sigla SCO, que também tem recebido demanda para novas adesões, e também busca alternativa ao dólar como moeda de comércio internacional, mas aqui concentradas em países da Ásia, e países cujos interesses em comum são mais de natureza militar e de defesa.