Jesus, crise mundial e profecia: Conectados?

Wilfred Hahn

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Traduzido por Pedro Antonio Dourado de Rezende



As pessoas perguntam frequentemente se a atual crise financeira global (CFG) tem um significado profético especial. Ou, se poderia possivelmente representar o começo ou a aproximação da tribulação.

Começando com a primeira pergunta, a resposta é “sim” e “não.” Em resumo, não, a CFG atual não é mencionada especificamente nas profecias da Bíblia. Porém, sim, no sentido em que ela é parte significativa de uma progressão de eventos que está conduzindo à realização de condições profeticamente descritas para ocorrer dentro do período da tribulação.

A resposta à segunda pergunta é um definitivo “não”, apesar de haver quem pense que a atual CFG já é parte do período da tribulação. Todavia, mesmo não havendo como basear esse entendimento nas escrituras, há que se concordar que alguns aspectos da atual CFG certamente têm paralelos com várias profecias.

Vamos examinar mais detalhadamente o papel da crise atual – seja a financeira ou a econômica – à luz da história mundial e da linha temporal profética na Bíblia. E ainda, quais garantias os cristãos podem hoje inferir desse registro.

Um mundo de crise contínua

Visto sob um ponto de vista geral, a atual CFG dificilmente se qualificaria como parte de uma série de eventos os quais “[…] desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração” (Joel 2:2). A crise atual não é inédita sob a prisma da história mundial. Houve muitas crises econômicas e financeiras no mundo antes, algumas muito mais desastrosas, causadas por guerras, por pragas ou fenômenos naturais (grandes efeitos climáticos ou erupções vulcânicas). Também outras que, como a atual, foram bolhas clássicas e colapsos financeiros envolvendo super-endividamento e manias monetárias. Todas essas condições de crise têm longa história.

Se é assim, então por que não lemos sobre elas na Bíblia? Bem, na verdade a Bíblia fornece, sim, relatos de grandes colapsos econômicos e financeiros, tanto do passado quanto – mais crucialmente – do futuro. Por exemplo, sete anos de abundância foram seguidos por igual período de desastre para a estrutura econômica do mundo então conhecido: os sete anos magros da época de José do Egito certamente se qualificam como um colapso que supera, em magnitude, a atual CFG.

A Bíblia também fala de várias secas; por exemplo, uma que durou exatos 3 anos e meio, em Israel, durante a época de Elias e de rei Ahab, que certamente teria causado uma depressão econômica em Israel, capaz de devastar muitas fortunas.

Não identificamos prontamente estes relatos como crises econômicas principalmente porque a Bíblia não os descreve em termos econômicos comuns à nossa época “financeiramente sofisticada”. A Bíblia não descreve esses eventos como colapso de mercados de crédito, como falência de bancos, nem dá detalhes das possíveis condições inflacionárias. Por exemplo, somente em escritos não Bíblicos ficamos sabendo das consequências inflacionárias do frenesi de gastança e empréstimos do rei Salomão, mas que foram parte dos motivos a levar trabalhadores a se queixarem do rei Roboão. A Bíblia apenas narra Jeroboão lhe dizendo “que seu pai [Salomão] havia posto um fardo pesado sobre nós” (1 Reis 12:4 ; 2 Crônicas 10:4).

É certo que a Bíblia frequentemente omite detalhes financeiros e contextos econômicos. Seria interessante saber, por exemplo, como alguns dos profetas se sustentavam. Como Jeremias, que profetizou por um período de uns 40 anos. A Bíblia apenas narra que Deus lhe exigiu que comprasse uma propriedade em Anathoth de um primo, Hanamel, (Jeremias 32) imediatamente antes dos Babilônios conquistarem e saquearem Judá. Como ele teria pago as contas durante seu longo ministério, em que viajou bastante e fez investimentos imobiliários duvidosos?

Devemos, naturalmente, notar que Jeremias recebeu a ordem para comprar a propriedade de Hanamel com o propósito de demonstrar sua fé a longo prazo na promessa de que Judá seria restaurado após 70 anos de cativeiro. Sabemos assim que Jeremias foi um investidor de longo prazo, mas fica incógnita a forma como ele teria se sustentado durante sua vida.

Não há dúvida de que muitos pastores, e outros chamados ao ministério, gostariam de saber como Jeremias se mantinha. Talvez de renda, tirando proveito de alguma fortuna deixada a ele por um pai ou parente rico. Mas simplesmente não sabemos. E esse tema não vem à tona com nenhum dos profetas. Jonas, por exemplo, indo para Tarshish perdeu tudo ao cruzar o mar Mediterrâneo, mas mesmo assim pode viajar para Nínive. Nenhuma menção é feita se ele voltou antes à sinagoga da sua cidade natal a fim de solicitar ofertas para sua missão redirecionada a Nínive. Só nos é dito que ali Jonas obteve permissão para a missão.

Da perspectiva do Espírito Santo, que inspirou a escrita da Bíblia, esses detalhes não foram tidos como importantes que saibamos. Sobre o tema, o testemunho silencioso das escrituras simplesmente fornece evidência da provisão do Deus. Presumida, pois tida como óbvia. Se somos chamados a fazer algo para o Senhor, ele também proverá um meio, contanto que exerçamos sua custódia com bom senso.

Um dos poucos casos (se não o único) em que Deus é mencionado intervindo miraculosamente foi com Elias (1Reis 17:4). Ele não só foi alimentado por corvos, divinamente enviados para lhe trazer carne e pão diários, foi depois também nutrido pela mulher de Zaraphath, com um frasco de óleo continuamente reabastecido (1 Reis 17:14). Deus não regou Elias com vinho e alimentos finos (nem com três automóveis Mercedes e uma mansão suntuosa, como alguns contemporâneos que se dizem chamados por Deus parecem exigir hoje), mas simplesmente com o que era suficiente.

Finalidade de Deus nas crises

Os tempos de crise econômica mencionados no velho testamento foram todos parte da obra de Deus. Porém, também interessante é aprender sobre o contexto econômico e financeiro global na época de Jesus Cristo.

Em nenhuma parte dos evangelhos encontramos qualquer menção ou descrição direta do contexto econômico geral daquele tempo. Mais uma vez, precisamos buscá-lo fora da Bíblia. Fazendo assim, descobrimos um fato interessante. O contexto econômico durante quase todo o período da vida terrena de Jesus foi de agitação financeira. Havia uma maciça crise financeira global, talvez nas dimensões da atual durante os últimos anos de sua vida terrena. De fato, é possível mostrar que uma crise financeira global agitava o mundo no momento mesmo em que ele percorria seu caminho para o calvário.

Temos um relato dos problemas financeiros de Roma, que precipitaram numa grande crise bancária no ano 33 D.C., no capítulo 15 do livro Caesar and Christ, de Will Durant: Uma história da civilização romana e da cristandade de seus começos a 325 D.C.:

Se você seguiu o relato acima, deve ter notado que os desenvolvimentos descritos levaram vários anos para culminarem finalmente numa crise de operação bancária catastrófica interconectada através do mundo conhecido naquele tempo. Certamente, foi uma crise financeira global. E mais certamente, parte destes eventos ocorreu quando Jesus estava ainda vivo, na época do seu ministério na terra.

Tácito, historiador romano dessa era, fornece a descrição mais detalhada conhecida nos Anais (VI, 16-17). Ele nos narra a resposta do Imperador Tiberius à crise:

A destruição de riqueza privada precipitou a queda de status e de reputação, até que o imperador finalmente interviesse, distribuindo através dos bancos cem milhões de sesterces, e permitindo empréstimos sem juros por três anos, desde que o devedor dispusesse como colateral ao Estado terra no valor em dobro do empréstimo. O crédito foi assim restaurado, e os empréstimos privados voltaram gradualmente.

 Como naquela ocasião, os vários bancos centrais de hoje estão seguindo as mesmas políticas [hoje chamadas Quantitative Easing]: inundam o sistema monetário com dinheiro, deprimem taxas de juro, e planejam termos especiais para induzir fluxos de dinheiro e de crédito. Também naquela ocasião, o tamanho das intervenções oficiais foram enormes – na casa das centenas de milhões dos sesterces (unidade monetária romana).

Poderia esta crise financeira do mundo Romano ter culminado no ano mesmo em que Cristo foi crucificado? As bancarrotas de vários bancos já tinham começado em 32 D.C., e continuando em 33 D.C. A data exata da crucificação de Cristo foi 14 de abril de 33 A.D. (cabendo exatamente as profecias de Daniel). Como tal, podemos confirmar que uma “antiga CFG” certamente grassava pelo mundo romano por volta do fim do tempo de Jesus na terra.

Pensamentos a refletir

Será que Jesus Cristo deve retornar num momento semelhante àquele em que partiu – durante o auge de uma crise financeira global? O que nós de fato sabemos, de acordo com os dois anjos que apareceram em seguida à Ascensão, é que “este Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1:11).

Quase certamente, o retorno final de Jesus no fim do período da tribulação ocorrerá em um momento da devastação global e do colapso econômico. Jesus, entretanto, também aparecerá nos ares antes, àqueles que vier levar. Ele disse, “eu virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo; para que onde eu estiver estejais vós também” (João 14:3). Aqui ele indica o Arrebatamento. E então hoje, muitos cristãos esperam que o Arrebatamento ocorra antes que uma crise financeira tão grande se desdobre… talvez mesmo antes que a atual crise financeira global se agrave.

O Arrebatamento é iminente, podendo ocorrer a qualquer instante. Nós portanto não sabemos sua hora. Entretanto, parece lógico acreditar que assim como Cristo “foi levado dentre vós aos céus” – os seja, dentre os crentes que olhavam para cima enquanto Cristo ascendia aos céus – também aqueles que serão recebidos no céu por ele no Arrebatamento, igualmente estarão olhando para cima… e não atrapados e focalizados numa crise financeira mundana.

Uma atitude não-mundana foi implorada pelo apóstolo Paulo: “Isto porém vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que tem mulheres sejam como se as não tivessem; [...] e os que compram, como se não possuíssem; e os que usam as coisas deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência desse mundo passa” (1 Corintios 7:29-31).

Ao contrário das promessas dos globalistas, demagogos, falsos profetas e vários outros tipos de charlatães e gaiateiros, nenhum paraíso será alcançado na terra pela humanidade. Em sua forma atual, o mundo passará . “[…] levantemos nossas cabeças, porque [nossa] redenção se aproxima” (Lucas 21:28).

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